Por, Prof João Andrade. |
Foto: Sebastião Salgado. Crianças nascidas no campo de detenção Whihead para refugiados vietnamitas. Hong Kong. 1995 |
É interessante o quanto essa pergunta é relativizada pela própria humanidade. Sentimentos, ideias, projetos, um sem número de coisas são trazidas para esse debate.
Mas quando olhamos
para a história de nossa espécie, o que vemos é, no mínimo, espantoso. No decurso
do tempo, e durante muitas eras, nem mesmo tínhamos o conceito que nos definíssemos
como “humanos”.
Somente a
tragédia das guerras, da revelação da mais pura e visceral face da violência humana,
nos tem feito buscar ou definir contornos para essa figura etérea que é o ser
humano.
Novamente, uma
guerra em decurso na Velha Europa, palco de infindáveis conflitos, no impele a
refletir sobre o modelo de mundo que desejamos e que estamos construindo. Mais uma
vez os pensamentos de Maniqueu são ressuscitados e somos forçados a buscar
dividir o mundo em 2 lados: o certo e o errado; o herói e o algoz; o bem e o
mal; o mundo civilizado e o bárbaro.
Como vemos, são
velhas divisões. Velhos paradigmas. Mas que tomam contornos mais sérios pois,
em nossos dias atuais, possuímos algo que não havia existido em outros momentos
da história humana: a velocidade da comunicação.
Essa velocidade
comunicativa já foi apontada, inclusive, como a responsável pela extrema aceleração
da história, provocando a diluição das barreiras entre as temporalidades clássicas
e tão arraigadas em nossas sociedades: as noções de passado, presente e futuro.
Mas essa
diluição alimenta, também, uma velha forma de guerra, e que tem apresentado em
nossos dias, uma força que ainda não se havia registrado: a guerra de narrativas!
A violência gratuita e a morte se tornam um espetáculo grotesco, onde o que
menos importa são as vítimas e sim em apontar quem está do lado certo.
Poderíamos
fazer uma longa comparação entre as duas figuras “protagonistas” do conflito na
Ucrânia. Mas, sinceramente, do que adiantaria? Do que adianta, aqui, verificarmos
se Volodymyr Olexandrovytch Zelensky tem realmente, ou teve algum dia,
condições de ser presidente de qualquer país que seja?
De que adianta
aqui aderirmos às teorias absurdas de conspiração neo-nazi-conservadoras ocidentais
que dizem que Vladimir Vladimirovitch Putin é uma espécie de guerreiro
tardio do comunismo soviético e que deseja, a todo custo, dominar o mundo com
suas “ideias revolucionárias e perigosas”?
Fazer um debate
nesse nível é, realmente, perder tempo. O que o conflito na Ucrânia representa,
realmente, é o reflexo da profunda crise em que o sistema capitalista mergulhou
no início deste século XXI e da qual ainda não saiu. Lenin já apontava em uma
obra escrita há exatos 105 anos, que o sistema capitalista viveria entre ciclos
de crise e estabilidade, até que a crise se torne uma constante. E, nesse
cenário, as guerras seriam formas de extravasamento das relações entre os
grandes agentes econômicos representados pelas nações.
O que vemos nas
ruas de Kiev e nas estradas da Ucrânia, muito pouco tem a ver com projetos de
russialização ou de ocidentalização do território ucraniano, esta muito mais próximo
das disputas pelo domínio de mercados e pela demonstração de poder em disputa
dentro do sistema capitalista.
“Ah! Mas a Rússia
é comunista!”, algum leitor ou leitora pode até estar pensando isso agora. Mas,
acredite, a Rússia nunca foi comunista. Até mesmo a grande potencia do passado que
foi a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, também não foi comunista.
É preciso ter a
clareza, apresentada por Marx e Engles em tantos escritos que constituem parte
fundamental das teorias do Socialismo Científico: o Comunismo é a fase final do
desenvolvimento da sociedade humana, quando o trabalho será finalmente considerado
a forma superior de realização do ideal humano e não um instrumento de
espoliação e exploração. Onde a moral e a ética elevada trarão para o centro
das relações o verdadeiro valor humano, baseado em princípios de igualdade,
fraternidade e liberdade. Sem a necessidade da existência de um Estado regulador,
nem da “mão do mercado”, para a organização justa e espontânea das pessoas.
Esse estado de
coisas, esse ideal de vida, ainda não foi alcançado por nenhuma sociedade. Apenas
se começou a trilhar o caminho que é aberto pela Revolução Socialista: somente
um estado socialista é capaz de conduzir um povo para o caminho do comunismo. E,
convenhamos, a URSS mergulhada nos interesses da Guerra Fria, passou muito longe
de cumprir esse objetivo.
Outro ponto
muito importante à considerar é a capacidade de adaptação que o próprio sistema
Capitalista possui: sempre se direcionando para o lucro máximo, adaptando-se,
reinventando-se, ora gritando por liberdades, ora exigindo intervenção do
estado para a sustentação do lucro.
Não quero, aqui,
eximir qualquer pessoa das reponsabilidades pelas atrocidades da guerra, desejo,
antes, provocar uma reflexão sobre os reais motivos que movem a OTAN e a
Federação Russa à um conflito por supremacia de influencia dentro do sistema capitalista.
É isto que
importa: garantir o lucro extremo. A vida, a vida humana, essa não importa!
Somos apenas números para o sistema, consumidores é a forma como nos chamam.
Precisamos nos
erguer contra o imperialismo capitalista, esse é o verdadeiro mal!
Que as guerras
terminem, e as crianças ucranianas possam voltar para suas famílias e as crianças
palestinas possam sonhar com um futuro!
Que as violências
cessem, e as crianças da África possam construir suas vidas em paz e as
crianças da América Latina possam desfrutar das riquezas dessa maravilhosa parte
do mundo!
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