Por, Prof. João Andrade
Desde tempos imemoriais, os seres humanos perseguem uma coisa: a sua identidade. A capacidade de definir quem somos, de onde viemos e qual o nosso lugar, constitui um poderoso instrumento, pois concede o poder de mobilizar as pessoas sob a égide dos mais diversos sentimentos.
Nos últimos tempos tivemos incontáveis exemplos de como a busca pela afirmação de identidade é capaz de mover as pessoas a praticar atos que, infelizmente, foram caracterizados pela extrema violência. Ainda resta o gosto amargo dos eventos terroristas do dia 08 de janeiro, em que “patriotas” destruíram as Sedes dos Três Poderes da República, em Brasília.
Em um Estado democratico, a identidade deve ser embasa na prática da Democracia que é, antes de tudo, sustentada e alimentada pelos pilares da memória (lugares, objetos, leis, monumentos) que contém o testemunho de como a sociedade é composta, quais nossos limites e referências para a vida coletiva como um todo. Mas, é claro, esses pilares podem ser, e frequentemente são, questionados por grupos que compõe o tecido social e que engendram disputas por hegemonia do campo da Memória.
E aqui está o problema que enfrentamos em Araruna: há um
processo de franca disputa sobre o que se quer (ou o que se deve) lembrar da
história da cidade. Sabemos que uma das formas tradicionais cristalizadas no
Brasil para a preservação de uma memória é a sua monumentalização, ou seja, o
estabelecimento de lugares onde, no mínimo, o nome possa ser inscrito em “pedra
e cal” para que esteja vivo nas reminiscências das pessoas.
Por essa razão e com esse argumento geral, vemos personalidades
serem “homenageadas”, quando seus nomes são dedicados à prédios ou obras
públicas, por exemplo. O ato de ser considerado merecedor de ser lembrado,
parece constituir a maior honra que a sociedade humana pode conceder, e isso se
concretiza, nas sociedades republicanas e democráticas, como dito acima, quando
o nome de um cidadão é escolhido para ilustrar a fachada de um prédio.
A cidade de Araruna é berço de uma importante personagem da
história do estado da Paraíba: o cidadão José Targino Maranhão. Zé Maranhão,
como é carinhosamente chamado pelo povo, foi Deputado Estadual da Paraíba,
Deputado Federal e Senador da República, representando o povo de seu estado. Foi
ainda Vice-Governador e Governador da Paraíba, tendo iniciado sua vida pública
em 1955 que se estendeu até sua morte, em 2021, tendo sido uma das mais de 700
mil vítimas da Pandemia de covid-19. Foram 66 anos de vida pública.
Em decorrência de sua inegável importância para a história pública da cidade e do estado, e em tempos anteriores à proibição constitucional de impor nome de pessoas vivas à prédios públicos, Zé Maranhão foi homenageado tendo seu nome dedicado à uma escola e a um ginásio em Araruna. Homenagens eue estão sendo apagadas pela atual gestão municipal da cidade.
Mas há perguntas que se devem responder: qual o interesse do atual
prefeito em apagar o nome de Zé Maranhão dos prédios públicos de Araruna? Qual
o medo que ele tem dessa memória? Será que o nome do falecido Senador é capaz
de incomodar tanto?
Acredito que sim, as memórias devem ser questionadas, analisadas
e repensadas. Mas isso num contexto sério, embasada em uma extensa pesquisa e
documentação que seja devidamente discutida e compartilhada com a comunidade. A
mudança do nome de um prédio público, a desconstituição de uma memória
coletiva, não deve ser apenas para atender o desejo do ocupante transitório da
cadeira de prefeito da cidade. Antes de tudo, deve refletir o desejo democrático
da sociedade local que, pelo que temos visto, não foi consultada.
Rogo que nosso povo ararunense possa corrigir esse erro, que
as memórias possam ser respeitadas e democraticamente preservadas.
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