Por João M. C. e Andrade
Professor de
História e Química
Especialista em
Direitos Fundamentais e Democracia.
Fundador do Centro
de Referencias em Direitos Humanos do Agreste da Paraíba.
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Fonte: https://une.org.br/wp-content/uploads/2019/05/Sa%CC%83o-Paulo-SP.jpg |
Nesses
dias de grande mobilização popular, quando um tema é capaz de convulsionar a
nossa sociedade, é comum ouvirmos os mais diversos discursos sobre o movimento,
as razões, os motivos e justificativas. É evidente que sopesam sobre as falas o
lugar social de cada um e, ainda, a pressão exercida pelas forças que se
contrapõem na Luta de Classes.
Sim,
Luta de Classes é um tema antigo e muitas vezes se apregoa que já foi vencido.
Mas temos que observar mais de perto e levantar uma questão crucial: a disputa
entre o capital e o trabalho foi realmente encerrada?
Para
além disso precisamos lembrar que a teoria marxista clássica aponta que a Luta
de Classes se dá em dois campos: o campo
econômico – ligado as necessidades mais básicas do ser humano no que tange
a sobrevivência diária, e aqui temos a produção de alimentos, vestimenta,
transporte e moradia, somente para citar algumas das inevitabilidades do
cotidiano; e o campo político –
ligado aos projetos de sociedade necessários para a estabilização do próprio
processo produtivo.
É
no campo político que encontramos uma das principais arenas de disputa da sociedade que é, justamente, a Educação e mais precisamente a Escola.
Já
não é de hoje que ouvimos o discurso de que a “educação é capaz de salvar a
sociedade”. Mas cabe questionar: QUE
SOCIEDADE? Aqui, então, está o ponto nevrálgico dos questionamentos sobre a
legitimidade de algumas manifestações durante os eventos de grande mobilização
nacional que aconteceram nas “Jornadas Populares de Maio”.
Alarmados
pela desastrosa e irresponsável política de cortes promovida pelo Governo
Bolsonaro na área da Educação, num ataque sem precedentes na história de nosso
país, entidades populares, organizações da sociedade civil, sindicatos,
entidades representativas dos estudantes (UNE E UBES) tomaram as ruas em
protesto, levando à mobilização de mais de 5 milhões de pessoas, quando somamos
a participação nos dois dias (15 e 30 de maio).
Mas,
apesar do grande sucesso de mobilização, vieram à tona os sintomas da exaustiva
campanha da burguesia contra o povo trabalhador:
...“política
não deve ser discutida por pessoas comuns”
...“quem
faz política não trabalha, quem trabalha não faz política!”
Esses
e outros jargões espalhados aos quatro ventos pela Imprensa nacional
comprometida com o capital, realizaram em nosso Brasil a sentença de Joseph
Goebbels, o ministro da propaganda de Adolf Hitler: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.
O
principal resultado desse processo de escamoteamento de mentiras em verdades é
a abominação chamada “apolítica” ou “apartidarismo”. Ora, já os filósofos
gregos afirmavam que não existe espaço vazio na política. Não há como não fazer
escolhas. Viver em sociedade requer que determinemos nosso lugar, nossa posição
e, em última instancia, o nosso lado, o nosso partido.
Nesse
contexto é possível perceber que a principal arma utilizada pelo capital contra
a Classe Trabalhadora é, justamente, o discurso da apolitização. O reflexo mais
notório é ver-se advogar que não se devem lançar mão das organizações
partidárias em eventos que, em tese, seriam “movimentos espontâneos do povo”.
Mas
algumas reflexões são necessárias sobre esta questão.
Em
primeiro lugar, não existe “movimento espontâneo das massas”, toda mobilização
necessita organização e isso só é possível na Classe Trabalhadora através de
instituições como Sindicatos, Grêmios Estudantis, DCE’s, UNE, UBES, Partidos
Políticos. Pois são eles que elaboram as pautas, produzem o material de
divulgação e tomam a frente do processo organizativo. Sem isso, não há manifestação.
Em
segundo lugar vemos que tal entendimento já foi adotado até o capital burguês
no Brasil. Por isso construíram e financiaram o famigerado “Movimento Brasil
Livre – MBL” que, inclusive, teve seus principais representantes eleitos para a
Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo e para a Câmara de Deputados em
Brasília.
É
patente que o discurso do “apartidarismo” é uma das grandes armas do capital
burguês para desorganizar as ações dos trabalhadores. Mas, como afirma o velho
ditado “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, se o capital burguês pusesse
em prática esse discurso, a primeira coisa a fechar seria a FIESP (Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo) ou a Federação das Indústrias do Estado
da Paraíba (FIEP).
Essas
instituições defendem politicamente os interesses do empresariado, frente às
estruturas do Estado. Se fossem, realmente, apartidários e apolíticos não
teríamos empresários envolvidos com disputas eleitorais, e ocupando cargos
eletivos nas mais diversas esferas de nossa federação. O governador do distrito
federal é um exemplo típico desse comportamento.
Em
terceiro lugar: todo fanatismo é nocivo, mas o partido é necessário. Não
existem relações sociais sem haver a relação de poder e, consequentemente, a
relação política. O que vêm acontecendo é a apropriação de um discurso perigoso
da "apolitização", fazendo o ambiente político parecer inadequado ao
tal "cidadão comum".
Mais
do que isso, sem partidos não existe democracia. Se o sistema democrático
prescindir dos partidos, restará apenas a autocracia ou o totalitarismo. A
história está bem marcada com exemplos disso: o FASCISMO e o NAZISMO
escancararam a virulência do discurso totalitarista e, com isso deixaram à
mostra o que a humanidade pode fazer de pior.
Aqui
no Brasil tivemos diversos momentos de quase extinção da democracia: na
Ditadura de Vargas e na Ditadura Militar, por exemplo. Hoje o que temos é uma
ampla propaganda contra os partidos para que o povo não se organize e deixe de participar
do processo democrático, ficando à margem a espera de um salvador.
Precisamos
ter clareza da real necessidade da organização popular, no sentido de garantir
o funcionamento mínimo do processo democrático e republicano. Mas, ao passo que
precisamos de organização, necessitamos ficar atentos aos aventureiros
oportunistas, que engabelam os trabalhadores e o povo. O próprio presidente é
um exemplo típico dessa personagem de que falo.
Por
fim, vemos que o projeto de “dois Brasis” se confrontam agora: Um projeto
voltado para o Povo Trabalhador: promovendo bem-estar social, desenvolvimento
econômico, avanços na educação e desenvolvimento científico, reconhecido e respeitado
internacionalmente; e outro projeto
voltado para o Capital, comprometido apenas com o lucro das empresas, que matam
pessoas soterradas pela lama, que corta o pouco dinheiro da educação, que
compromete o sagrado direito à aposentadoria, e que não consegue ter nenhum
reconhecimento internacional.
Tal
confronto de projetos de país se materializa em uma frase: “#LULALIVRE!. Essa manifestação
em muito já ultrapassou o necessário fato da liberdade do Presidente Luiz
Inácio. Ela contém, também a defesa do Estado Democrático de Direito, pois como
já é amplamente conhecido o Presidente Lula está preso sem provas, é um PRESO
POLÍTICO.
A
simples ideia de que o Estado brasileiro permite que tal fato exista é uma execração.
É algo extremamente perigoso, pois desrespeita a constituição e põe em cheque
as Garantias e Direitos Fundamentais do Cidadão Brasileiro. Veja o caso do Rio
de Janeiro, onde o próprio governador empunha uma metralhadora para matar os
cidadãos de seu estado.
A defesa
da Classe Trabalhadora tem se tornado uma coisa cada dia mais urgente.
Precisamos compreender nosso lugar social e nossa responsabilidade com todo
esse processo.
Atualmente
não faço parte de Direções Sindicais ou Partidos, mas, como professor, procuro
sempre compreender meu lugar social: filho de trabalhador, neto de agricultor;
professor de escola pública, preceptor de jovens pobres. Esse é meu lugar. E
entendo que devo defender minha Classe, a dos Trabalhadores.
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